sábado, 15 de novembro de 2014

Nada detém o assoreamento do Lago Paranoá .DF ficará sem agua como SP?

Desde a criação do espelho d?água, cerca de 20% foi perdido, comprometendo o ecossistema

eric.zambon@jornaldebrasilia.com.br


A princípio imperceptíveis, bancos de areia tomam o Lago Paranoá e diminuem sua área navegável. O conselheiro do Comitê da Bacia Hidrográfica Paranoá e diretor de meio ambiente da Federação Náutica de Brasília, Luiz Rios, afirma que o lago já perdeu cerca de 20% de superfície. “A perda de volume para abastecimento e diluição dos esgotos tratados é muito maior, pois, para a areia subir e cobrir a lâmina d'água, quer dizer que o fundo já está totalmente bloqueado. O local fica praticamente inviável para qualquer ecossistema”, sentencia.
De acordo com a Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb), dos braços que alimentam o lago, os do Riacho Fundo, próximo à Ponte das Garças, e o do Bananal, nas proximidades da Ponte do Braguetto, são os que sofrem mais intensamente com o processo de assoreamento.


“Antigamente, a gente ia da Ponte das Garças até a ponte do Zoológico de barco, agora é quase impossível”, relata o sargento Wilson, do 1º Pelotão Lacustre da Polícia Militar do DF. “Você pode ver que tem muita sujeira nas margens e vários bancos de areia se formando. Isso tudo é o assoreamento acontecendo”, aponta.


Ocupações
Segundo o Instituto Brasília Ambiental (Ibram), a causa seria “a ocupação das margens dos principais tributários do Lago Paranoá, especialmente os braços do Riacho Fundo e do Bananal”. O órgão afirma que “as ocupações irregulares e, consequentemente, o crescimento desordenado contribuíram para o processo de carreamento de partículas, que se acumularam no lago, diminuindo sua profundidade”.


Já a Caesb afirma não ter estudos sobre a perda de superfície do lago, mas credita o problema à “remoção de cobertura vegetal e movimentação de terra sem os cuidados específicos durante a execução de obras e a práticas agrícolas”.


De acordo com a companhia, o braço do Riacho Fundo, que pode ser tomado como principal exemplo para a situação geral, “vem sofrendo um processo acelerado de degradação”. Até 1988, teria perdido 345 m³, o equivalente a 15% do seu volume total, devido ao assoreamento iniciado após a criação do Paranoá, em 1960.


Desde então, esse número alcançou mais de 19%, o que representa 437 m³, até 2009, quando os últimos estudos teriam sido feitos. Para a Caesb, apesar de não ser um dado válido para todo o lago em si, “representa uma perda significativa ao seu uso para diluição e para navegação”.


Limpeza
A poluição do Lago Paranoá é um dos problemas enfrentados pelo espelho d’água. Nos últimos anos, diversos mutirões de limpeza têm sido feitos, muitos voluntários, para tentar frear a deterioração da área.


Usuários percebem as falhas
Para Maurício Carneiro de Albuquerque, economista de 54 anos e velejador nas horas vagas, o assoreamento não é apenas perceptível, como faz com que desconfie até mesmo da carta náutica do Distrito Federal. “Minha embarcação já encalhou em locais onde não era para acontecer esse tipo de coisa. É uma questão que requer cuidado dobrado de quem usa o lago para determinados propósitos”, alerta.

Na avaliação do velejador, é importante a definição de políticas públicas bem claras, a serem aplicadas constantemente, tendo em vista a preservação do Lago Paranoá. “Já vi gente passear de lancha e jogar latinhas de cerveja. Infelizmente, no geral, as pessoas não têm zelo e percepção de que todo mundo tem seu papel para fazer a coisa funcionar”, critica.

Descaso
Presidente da Federação Náutica, servidor público e também velejador, Roberto Renner, de 49 anos, também se sente vítima por conta do descaso com a bacia d'água. “A situação é drástica. As embarcações, hoje em dia, já não descem mais nos clubes em época de seca, pois o nível da água baixa. Temos competições de veleiros o ano todo e lugares onde você andava antes, hoje você encalha”, conta.

“Existem lugares no lago onde eu passava com um veleiro e hoje consigo caminhar com água na canela”, relata Roberto Renner.  “É um perigo para a bacia, para as pessoas que usam”, complementa. 
Ele diz confiar que o governo prestará mais atenção à questão, uma vez que o governador eleito, Rodrigo Rollemberg, seria “do Lago”, mas demonstrou urgência quanto à resolução do problema.

Consequência de obras
O presidente do Comitê de Bacia Hidrográfica Paranoá, Jorge Enoch, explica que obras como a do Setor Noroeste e a própria construção de Águas Claras contribuíram para o assoreamento. Segundo ele, é um processo em que os sedimentos são carregados, geralmente pela força das chuvas, e depositados ao fundo da bacia, expandindo as margens e diminuindo a área navegável.

“Isso é um problema, porque você constrói o reservatório do lago para armazenar água e perde capacidade de fazê-lo devido à sedimentação. Você cria uma área mais pantanosa, exposta, e pode haver proliferação de mosquitos. Se houver lixo, pode dar mau cheiro”, explica Enoch.

“Pode impossibilitar, como aconteceu no Riacho Fundo, alguns píeres. Os barcos não têm mais como se aproximar da margem”, complementa.

Previsões nada animadoras
A reportagem do JBr. percorreu trechos do Lago Paranoá e flagrou diversas áreas assoreadas. Segundo o pelotão lacustre, os pontos críticos estão atrás da Estação de Tratamento da Caesb, nas proximidades da Ponte das Garças, e no chamado córrego Cabeça de Veado, entre as  QLs 16 e 18 do Lago Sul.


Próximo à Ponte do Bragueto, a equipe flagrou ainda uma galeria da companhia bastante entupida com terra e restos de obras, além de lixo.

A reportagem chegou a subir em ilhotas formadas apenas por sedimentos acumulados desde o fundo do lago. Lixo e outros resíduos permeavam a “praia”, e a polícia lacustre demonstrou preocupação com a  possibilidade de perder ainda mais espaço para andar de barco na região.

 “Daqui a uns três anos é capaz de toda essa área entre a Caesb e a ponte estar  desse jeito, cheia de areia. Para tirar isso aqui, só fazendo dragagem”, explicou o sargento Wilson, citando um procedimento de escavar o fundo d’água para remover terra e areia.

Óleo 
O lago já foi ameaçado por diferentes problemas, incluindo derramamento de óleo de caldeiras e despejo irregular de poluentes em suas águas. Jorge Enoch, do Comitê de Bacia Hidrográfica Paranoá, no entanto, acredita que o assoreamento pode ser uma das questões mais graves, pois muitas vezes passa despercebida.

“Outro problema é a drenagem urbana, que deve ser adequada, principalmente com a intenção de usar o lago como manancial de abastecimento público. É preciso de uma conscientização da população em relação ao lançamento clandestino de esgoto em águas pluviais”, avalia o presidente do comitê. “A população também tem papel fiscalizador”, completa.

Decreto questionado
A Procuradoria-Geral de Justiça do Distrito Federal e Territórios ajuizou  ontem ação direta de inconstitucionalidade contra o art. 1º do Decreto   35.850/14, que alterou o Decreto   24.499/ 04. O texto  "dispõe sobre o uso e ocupação do Lago Paranoá, de sua Área de Preservação Permanente e Entorno".

A ação do Ministério Público sustenta que, com a edição do   decreto, a área de preservação permanente relativa ao Lago Paranoá e seu entorno sofreu significativa redução, o que deverá impactar não somente na preservação ambiental, mas na captação de água.

Para o MP, o decreto  excede o exercício do poder regulamentar do chefe do Poder Executivo e contraria expressamente o que dispõe o Código Florestal.
A edição do decreto  também teria invadido a competência da União para editar normas gerais sobre a matéria e representou uma violação ao princípio constitucional da separação dos Poderes. O MP  também alerta que o Tribunal de Justiça tem impedido qualquer retrocesso no que diz respeito ao regime constitucional e legal da proteção  ao Lago Paranoá.

Saiba mais
Em 2014, a Federação Náutica agendou 39 eventos realizados no Lago Paranoá. Apenas em novembro, época de chuvas e quando o nível da bacia aumenta, são 12 já marcados, alguns para acontecer no mesmo dia.

Segundo a Caesb, o Lago Paranoá foi formado a partir de 1959, quando foi concluída a Barragem do Paranoá. Foi criado com o objetivo de melhoria do microclima, geração de energia, paisagismo, recreação e lazer. Além disso, teria a função de receber os esgotos tratados das estações de Tratamento de Esgotos (ETEs) Sul e Norte, bem como a drenagem urbana da Bacia.

Fonte: Da redação do Jornal de Brasília


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Luiza Helena

E o Magela apoiado pelo Agnulo queriam alterar o PPCUB e lotar as bordas do Lago de casinhas e de prédios.Não sei se vcs sabem mas a agua do Paranoá vai ser aproveitada para abastecer a população do DF.Com o adensamento das bordas, o Lago iria secar e nós ficariamos sem agua para beber.ANOTEM: Os PIORES corruptos de Brasília são o Magela, o Agnulo, a TERRACAP e o IBRAM (que permite que tudo isso aconteça!)


 
CARLOS
TODO ANO TEM ÓRGÃO DANDO PRAZO PARA A RETIRADA DAS OCUPAÇÕES E ÓRGÃO QUE NÃO OBEDECE PRAZO NENHUM. O LAGO PARANOÁ ESTÁ SE TRANSFORMANDO NUMA "SOPA DE LETRINHAS". A COMUNIDADE FALA, A IMPRENSA ESCREVE E OS POLÍTICOS ENROLAM A POPULAÇÃO. ENQUANTO ISSO A SITUAÇÃO VAI SÓ SE AGRAVANDO. NO FINAL TODOS JÁ SABEM. PAGAREMOS O MAIS CARO POSSÍVEL PARA RESOLVER ISSO. TEMPO É DINHEIRO "A MAIS PRA GASTAR"
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Caesb promete usar Lago Paranoá para ampliar oferta de abastecimento no DF O Lago Paranoá, até então limitado a lazer e a geração de energia elétrica, terá um sistema de captação desenvolvido pela Caesb que aumentará em um terço a atual oferta de abastecimento do Distrito Federal.


Amanda Maia
Publicação: 19/04/2013 06:00 

O custo da obra, que deve ser concluída em dois anos, chegará a R$ 400 milhões (Breno Fortes/CB/D.A Press)
O custo da obra, que deve ser concluída em dois anos, chegará a R$ 400 milhões

O Lago Paranoá servirá como fonte de abastecimento de água para cerca de 600 mil pessoas nos próximos anos. Até hoje usado apenas para lazer e geração de energia elétrica, o espelho d’água, um dos mais famosos cartões-postais de Brasília, surgirá como solução para a crescente demanda de captação e consumo por parte da população. A alternativa começou a ser estudada em 2005, quando a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) identificou a vazão de 8 metros cúbicos por segundo (m³/s) nas barragens do Rio Descoberto e de Santa Maria e Torto. Essa quantidade representa não só a necessidade dos moradores de todo o DF como o limite produzido pelas duas fornecedoras da região — elas alcançaram o ápice da capacidade nos últimos sete anos e continuarão a ser exploradas.


A resposta definitiva para a questão veio com a proposta de construir mais duas estações de captação da água no DF. A Caesb estudou 20 possibilidades e optou por duas: a de Corumbá e a do Paranoá. A última está mais perto de se tornar realidade a partir da liberação dos recursos pelo governo federal em março. Por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), serão investidos R$ 400 milhões no sistema de abastecimento do lago.

A iniciativa envolve a construção de uma estação de captação às margens do Paranoá, no Parque Ermida Dom Bosco; de outra de tratamento no Parque Bernardo Sayão, atrás da QI 27 do Lago Sul; além de 44,5km de tubulações para transportar a água. Também serão ampliados e erguidos nove reservatórios, espalhados por Itapoã, Paranoá, Colorado, Sobradinho, Lago Sul, Jardim Botânico, São Sebastião, Mangueiral e Tororó. Desse total, quatro são novos, e cinco passarão por reformas.

Dessa forma, serão beneficiados 600 mil habitantes, sendo 300 mil só em Sobradinho, região administrativa que hoje carece de abastecimento e abriga grande parte dos moradores de condomínios. Pelo tamanho e pela capacidade, o lago tem condições para o fornecimento. Em uma primeira etapa, a futura estação da Ermida Dom Bosco poderá captar 2,1 m³/s de água, chegando a 2,8m³/s em uma segunda fase, após aperfeiçoamentos. Isso significa aumento de mais de 35% no atual abastecimento do DF.



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