sexta-feira, 22 de julho de 2016

O Rio de Sangue que sai do Cerrado

Por Everton Miranda
 Restos de luz na noite do Cerrado. Foto: Luiz Navarro
Restos de luz na noite do Cerrado. Foto: Luiz Navarro

Dia bom. Cerrado, céu azul. Recém acordado, abro a janela para ver a música do mundo. Aqui há sempre passarinhos cantando, todos, muitos, tantos, um bom ornitólogo poderia dizer um por um. Eu só ouço e acho tudo muito musical. Levanto, me alimento frugalmente, vou cuidar das coisas. Cartões de memória, pilhas, todos às dezenas, centenas, para suprir as armadilhas fotográficas.


Estou em um programa de estágio, num dos mais importantes parques de cerrado do Brasil. Serviços braçais simples, cuidar de câmeras, muita técnica e pouca biologia, mas não enjoa por que é tudo novo e eu trabalho com uma vista fenomenal para o parque. É tudo muito plano, então, uns dez metros acima da chapada já me mostram um bom pedaço desse mundão que é o Cerrado. Volta e meia passam uns bichos para me distrair, araras, curicacas, tucanos e periquitos no céu o tempo todo, emas passeiam pela frente do alojamento.

Toda noite um cachorro do mato circula aqui, e a distância pode-se ver os veados campeiros. Na chegada, duas cotias cruzaram a frente do carro, lindas. Vim para cá lendo um artigo do George Schaller que comparava o parque ao famoso Serengueti. Se você não entende o que isso significa para um estudante de biologia, imagine que eu sou um nerd, Tolkien é correspondente de guerra,
e eu estou indo a Mordor para ajudar a destruir um Anel.

Serengueti não é aqui
"...descubro que o parque está morrendo. Caça, envenenamento e atropelamentos se intensificaram à medida que a ocupação do entorno tornou-se consolidada"
Mas os tempos aqui não são os mesmos. Chegando lá, descubro que não cabem mais as comparações com o Serengueti. Conversando descubro que o parque está morrendo.

Caça, envenenamento e atropelamentos se intensificaram à medida que a ocupação do entorno tornou-se consolidada, e hoje o parque é uma sombra do que foi. 


Biólogos contam que num trecho percorrido regularmente onde antes observava-se cerca de quarenta veados-campeiros, hoje ele veem quatro. As profecias são de um cerrado vazio, com o vácuo evolutivo das interações ecológicas. Dispersão de sementes, herbivoria, predação e outros fatores fundamentais para manutenção de sua diversidade somem com os bichos. Hoje essa defaunação já se estabeleceu na Mata Atlântica, que lentamente se transforma num bioma a cada dia menos rico. Dormi com o amargo dessa informação.


Carcaças no carrinho
"Me assusto, cheiro de podre, sangue preto escorrendo pelo ralo, os bichos feios, estraçalhados, babando sangue, olhos leitosos, opacos."
Acordo para o dia seguinte com a surpresa feliz de ver uma pegada de anta na soleira da porta. Chega uma estagiária correndo e diz que precisam de todo mundo.

Um refrigerador descongelando ou algo assim. No refrigerador, está um queixada descongelando. Queixadas são criados em cativeiro, então poderia ser para consumo, apesar do tamanho excepcional do bicho. Mas não, o refrigerador está cheio de carcaças até a tampa. Me assusto, cheiro de podre, sangue preto escorrendo pelo ralo, os bichos feios, estraçalhados, babando sangue, olhos leitosos, opacos.


Atropelamentos no entorno do parque. Explicam-me sobre o refrigerador e contam que temos que levar os bichos para outro, há uns duzentos metros dali. Luvas? Nem pensar. O chefe está com um problema na coluna. Eu sou o estagiário que se declarou muito rústico na sua carta de apresentações. Eu e o queixada, e um carrinho de mão.


Pego o animal pelas pernas, jogo no carrinho, o bicho está meio duro, meio mole, devia estar descongelando lentamente há horas. Sangue viscoso, coagulado, pinga no meu pé, fezes pretas escorrendo. É só o primeiro, acumulo em cima dele uma capivara semiadulta, um veado com crânio desfigurado pelo impacto, e um tamanduá-bandeira, sem pelos em vários pontos pelo atrito com o asfalto. O medo da dor desses bichos me enfraquecer é maior do que de qualquer doença relacionada às carcaças.


Thoreau comenta as extinções dizendo que não gostaria que algum semideus tivesse, antes dele, tomado do céu as melhores estrelas para si. Ver esses bichos mortos é forte. Vim aqui esperando ver o poema perfeito, o céu estrelado. Dói onde é mais sensível. Coloco na pilha um cachorro do mato e um quati, para partir com a primeira carga do carrinho de mão. Ao chegar ao refrigerador que seria o destino dos bichos sou instruído a deixá-los no chão.


Ao indagar sobre o destino final desses tristes símbolos insepulcros do descaso do Estado com a conservação da natureza, descubro que devem ficar ali para um experimento. Dieta de carnívoros, coisa muito séria pelo tom. Satisfeito com a explicação, vou buscar outra carrada de carniça. Filhotes de emas eviscerados vivos pela roda de um carro, um tatu empapado de sangue dentro de um saquinho preto, cotia, gambá, capivaras, mais duas. Uma sofreu um impacto tão grande das rodas de um carro que as unhas, pequenos cascos nessa imitação de ungulado, foram arrancadas dos dedos.


Outros tatus, um tapiti, bichos ininteligíveis, estraçalhados, que não cumprem seus papéis ecológicos. O desmonte da natureza.


Descarrego e vou buscar os últimos dois volumes com as mãos. Lembro das palavras do chefe, ao terminar de me ouvir sobre o vazio das florestas atlânticas do Brasil. Me diz ele que é o mesmo destino do Cerrado: bichos poucos e arredios, extinções locais, grandes animais ausentes. Eu não quero acreditar. No refrigerador, resta um lobo-guará e um volume preto. Levo um em cada mão. O lobo-guará está dobrado, torcido, com as pernas longas destoando do círculo em que seu corpo se transformou.


No caminho, seu pescoço semicongelado se estende e sua cabeça molhada de sangue toca minha perna pelo resto do caminho. Um lobo-guará, com sua postura elegante, caminhando pelos campos do Brasil central tem tanta nobreza. Seu sangue frio lambuza minha roupa, minha pele e minha mente.


Chegando ao novo refrigerador, verifico o saquinho preto, leve, quase insignificante. Abro: felpudo, cinzento, macio e infantil no meio dessa carnificina está um pequeno tamanduá-bandeira, os olhos fechados na paz da morte. A mãe pereceu sob as rodas de um carro, ele, não sei. Espero que tenha morrido sem dor. Começamos a ajeitar os bichos nas gavetas de uma geladeira velha, os pequenos apenas. Ao lado, o fundo de um refrigerador vaza água vermelha, e suponho que ali ficarão os bichos grandes.


Um saco de 100 quilos
"A forma do saco preto vai se assentando, parece familiar. Pode ser carne, um porco, um bezerro..."
Acomodados os bichos pequenos, abro o refrigerador grande. Um volume enorme dentro de um saco preto me espera lá dentro.


Tentamos ajeitá-lo de qualquer jeito para permitir a acomodação dos outros animais, e logo percebemos que seria impossível, não importa a maneira ou força que façamos. Não quero pensar nesse bicho, não quero mais saber de morte por hoje. Ele pesa uns cem quilos. Com algum custo me ajudam a ajeitá-lo no carrinho, os quilos duros de bicho morto.



Encaminho-o para o refrigerador quebrado, fazendo o caminho inverso, por que essa máquina ainda consegue manter uma temperatura de uns 15º C e há tempo para conseguir outro refrigerador até amanhã. Vou quicando o carrinho de mão pelo caminho, A forma do saco preto vai se assentando, parece familiar. Pode ser carne, um porco, um bezerro, um peixão. Mas parece familiar, algo naquele cheiro reflete um cheiro velho das visitas ao zoológico na minha infância.


Encosto o carrinho, ponho o bichão de pé e o viro delicadamente, equilibrando-o para a borda do refrigerador. Quando me inclino para pensar uma forma de escorregá-lo sem fazer muita força, toco o cotovelo no metal e levo um choque. Crispo as mãos no saco preto e o bicho escorrega violentamente para dentro, sem saco nem nada. O choque estava por vir: o bicho era uma onça-pintada.
 

Volto, triste, fatigado. Não quero saber como a onça morreu. Estou sujo de sangue e merda. Pego os restos de vísceras, os pedaços de sangue, patinhas de emas e todos os sacos pretos lambuzados para por fogo em tudo. Irônico é tentar por fogo em qualquer coisa no cerrado durante a estação úmida: impossível. Penso nos incêndios anteriores do parque, nos milhares de bichos queimados, tamanduás correndo em chamas, febre de fogo. Queimo tudo, com grande esforço. Agora eu sou cinzas, carniça, sangue e dedos queimados. Não sei mais do mundo.


Depois de um banho, sento-me para comer. O cheiro saiu do corpo, mas não da mente. Vem o recado que estão me chamando. Tinha um viveiro perto do local onde processávamos as carcaças, e é para lá que devo ir. Vou impaciente, imprudente, prestes a ser mal-educado. Abro a porta do recinto, entro e fecho. Dentro, estão três oncinhas. Louca brincadeira de um destino debochado. Correndo na minha direção, impossivelmente receptivas.


Eu agacho e elas sobem em mim, umas nas outras, brincam, rolam, polpudas, quentinhas, vivas, quase sorridentes. Vejo aquilo que raramente sinto no trato pessoal com um animal: afeto. Me ensinaram que os bichos são feitos de vontade de comer e se reproduzir, e eu acho isso muito sincero e bonito. Se pensar diferente você vira um cientista meio bobo - a gente chama isso de "antropomorfizar" o bicho. Fui treinado para não fazê-lo, mas ali foi aquele afeto que se tem com criança mesmo. E penso hoje que se você perde isso é que vira um cientista meio bobo, que esqueceu a que veio e virou um burocrata. As oncinhas estavam sorrindo sim.


Volto para o alojamento. Eu não sei quando essas coisas vão mudar, mas há pressa. Conservação tem pressa. Posso ser só mais um universitário idealista, achando que o mundo vai mudar. Posso acabar em algum cargo público tentando resolver os meus problemas, mas quero mais do que isso. Eu quero escrever sobre um rio de sangue que sai do cerrado, e apodrece na lente do desenvolvimentismo, invisível e insepulto. Eu quero as oncinhas correndo livres por aí.

Enquanto termino de escrever na varanda, um par de olhos brilhantes cruza a noite, rumo a BR. Talvez pela última vez.

O dilema de conviver com sucuris (anacondas)

Por Everton Miranda e Christine Strüssmann
Anaconda verde (Eunectes murinus). Foto: LA Dawson / Wikimedia Commons
Sucuri verde (Eunectes murinus). Foto: LA Dawson / Wikimedia Commons


Pelo menos oitenta espécies de serpentes já foram registradas nos diversos ecossistemas pantaneiros, nenhuma delas tão emblemática como as duas sucuris: a respeitável amarela (Eunectes notaeus) e a imensa verde (E. murinus), ambas temidas e admiradas por sua poderosa força e dimensões avantajadas!


As duas espécies são fáceis de distinguir: variam quanto ao tamanho, aparência, hábitos e distribuição. A sucuri-amarela ou sucuri-do-Pantanal é menor em tamanho e menos pesada que a sucuri-verde, mesmo assim fêmeas mais velhas alcançam 3,7m de comprimento e 30kg! Sua coloração de fundo vai do amarelo vivo – nos jovens – ao verde oliva ou marrom escuro – em indivíduos mais velhos.


Ao longo de todo corpo e cauda das sucuris-amarelas existem manchas pretas que atravessam o dorso de um lado ao outro, em forma de sela. A espécie ocorre somente em áreas queinundam anualmente, influenciadas pelas cheias do Rio Paraguai, nas regiões próximas às fronteiras entre Brasil, Bolívia, Paraguai e Argentina.


“É preciso evitar a associação entre a presença de gente com comida farta e fácil”
A sucuri-verde ou anaconda, por sua vez, é a maior espécie de serpente do continente sul-americano e uma das maiores do mundo, podendo medir mais de 5m e pesar até 100kg! A coloração de fundo dessa sucuri vai do verde oliva ao preto, sendo as manchas escuras menores e de formato circular, dispostas a cada lado do corpo. Tem distribuição muito mais ampla do que a sucuri-amarela, ocorrendo em rios e outros corpos d’água, em boa parte do Brasil e em países vizinhos, em áreas com influência da Amazônia e do Cerrado. No Pantanal, entretanto, é rara, sendo muitíssimo mais provável “topar” com uma sucuri-amarela durante passeios pela região.


As sucuris são predadoras: para sobreviver, elas matam e consomem outros animais. Como outros predadores, elas têm um importante papel a cumprir nos ambientes que habitam: o de controlar as populações de suas presas, incluindo pragas potenciais para o homem, como ratos.


Nenhuma das duas sucuris é serpente peçonhenta, ou seja, elas não produzem toxinas capazes de matar. Sua estratégia – conhecida como constrição – consiste em envolver a presa com seu corpo e apertar até que o coração pare de bater. Embora sempre se pense em sucuris como predadoras de animais grandes, como bois e capivaras, essas serpentes consomem muitos tipos diferentes de presas. Em algumas regiões do Pantanal, alimentam-se principalmente de aves semiaquáticas e pequenos mamíferos. Já em um banhado do norte da Argentina, descobrimos que um terço das presas das sucuris-amarelas são ratos!


 Elas também podem capturar répteis – como jacarés e lagartos – e até mesmo peixes, ovos e carniça. Isso explica porque, muitas vezes, elas se aproximam ou até mesmo atacam pessoas na beira d’água, quando estão limpando peixes ou lavando utensílios com cheiro de carne e vísceras! Ambas as sucuris têm visão limitada e bom olfato. Para elas, uma mão humana cheirando a peixe é peixe...
Sucuri-amarela. Foto: Ministerio de Ambiente y Desarrollo Sustentable da provincia de Corrientes
Sucuri-amarela. Foto: Ministerio de Ambiente y Desarrollo Sustentable da provincia de Corrientes



“As duas espécies de sucuris são predadoras de visão limitada e bom olfato. Para elas, a mão de um pescador cheirando a peixe é peixe e, por isso, elas podem atacar pessoas por engano”
Em áreas naturais, sucuris são animais tímidos, que tendem a evitar o contato com humanos. Em áreas rurais ou locais muito frequentadas por turistas e pescadores, contudo, as sucuris podem ter menos medo e frequentemente associam a presença de gente com fontes de comida farta e fácil. No entorno de habitações humanas, como sedes de fazenda e retiros, há animais domésticos como porcos, galinhas, patos e cães, além de restos de animais mortos.



Os animais domésticos costumam frequentar sempre os mesmos lugares, em busca de água e comida. No trajeto, deixam trilhas de odor no ambiente, facilmente captadas pelas sucuris.


Outra crença popular em relação às sucuris diz respeito à frequência dos ataques a pessoas. Imagens de filmes fictícios e exagerados – como Anaconda – estão fixadas no imaginário coletivo, mas não representam a realidade. Ataques a pessoas por sucuris são, na verdade, bastante raros e nunca houve qualquer morte confirmada. Nosso grupo de pesquisa estudou 330 casos de interação entre sucuris e humanos e somente em um caso houve um ataque não provocado. Mesmo assim, a pessoa se salvou. Em outros dois casos, as sucuris só atacaram depois de serem ncomodadas.


 Os pantaneiros, naturalmente, não gostam quando seus animais domésticos ou de estimação são mortos pelas sucuris. Mas existem maneiras de diminuir as chances de enfrentar problemas desse tipo, em lugar de simplesmente eliminar as serpentes. Nossas principais recomendações são:
  • Não alimente as sucuris – direta ou indiretamente. Embora ninguém ofereça alimento a uma sucuri, esses animais podem aprender a associar habitações pantaneiras com comida, quando encontram restos de peixes e carcaças de animais com frequência. Sucuris já foram vistas, por exemplo, consumindo cabeças de pacu descartadas no processo de limpeza dos peixes. Muitos acidentes acontecem quando uma sucuri é atraída pelo odor dos peixes ou louça sendo lavada na beira de rios, baías e corixos. A serpente se aproxima sem ser percebida e repentinamente tenta abocanhar aquilo que cheira como alimento.
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  • Supervisione animais de estimação que circulam livremente. Sucuris são, muitas vezes, culpadas por gatos ou cães desaparecidos e nossas pesquisas indicam que, de fato, elas frequentemente comem esses animais. Mantenha os animais de estimação cativos ou ao alcance da vista, o tempo todo. É mais seguro para eles, além de evitar que eles se tornem predadores de outros animais da fauna pantaneira, como pequenas aves.
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  • Verifique sempre as condições dos galinheiros, tapando buracos e falhas na tela. Isso evita que as sucuris entrem e comam galinhas, patos e seus ovos. Evite construir galinheiros muito perto da água, pois as fezes e as penas que caem na água podem atrair sucuris a grandes distâncias.
A captura e a manipulação inadequada, sim, costumam resultar em acidentes. Nesses casos, geralmente elas mordem, pois sucuris empregam a constrição principalmente para se alimentarem e não para se defenderem. Ainda assim, quando muito provocadas e sem chances de escapar, morder ou constringir, essas grandes serpentes simplesmente escondem a cabeça entre as voltas do corpo. Fazem isso de uma forma tão apertada e eficiente que formam uma verdadeira “bola” ou “nó” e só desfazem o emaranhado muito tempo depois de a perturbação cessar.

Everton (autor) e a sucuri-amarela. Foto: Masahiro Yasuda, JICA/JWRC
Everton (autor) e a sucuri-amarela. Foto: Masahiro Yasuda, JICA/JWRC

Nos mesmos 330 casos de interações entre sucuris e humanos estudados, contamos 51 sucuris mortas pelas pessoas!

Assim, embora seja compreensível o medo dos humanos em relação a estas  predadoras selvagens, as sucuris certamente têm mais razões para temer os homens do que o contrário. Para citar outros tipos de acidentes, é muitíssimo mais alta a probabilidade de fatalidades causadas por picadas de abelha ou pela queda de raios do que por um ataque de sucuri!


Nunca é demais lembrar que animais selvagens não podem ser legalmente capturados no Brasil, a não ser por profissionais com uma licença especial. Logo, predadores ou não, todos os animais silvestres – incluindo as sucuris – devem ser tolerados. Em caso de persistência das interações e de problemas com animais domésticos ou de estimação, a sucuri pode ser removida por pessoal especializado, geralmente bombeiros, biólogos ou médicos veterinários.


O animal removido deve ser corretamente identificado e, depois, solto em um ambiente apropriado para sua espécie (uma sucuri-amarela provavelmente morrerá se for solta em rios da Amazônia ou do Cerrado, por exemplo). Além disso, é preciso que a distância em relação ao local de captura seja superior a 50 quilômetros, pois serpentes são conhecidas por retornarem a um local de “comida fácil” se a distância for inferior a isso.

Matar a sucuri não resolve a questão, pois deixa o território livre para a chegada de outras serpentes, atraídas pelo mesmo tipo de comportamento humano. E ainda pode trazer problemas com a lei. Recentemente, pescadores foram processados pelo poder público após incomodar uma sucuri que havia se alimentado e estava impossibilitada de fugir, em um rio no Pantanal.

As sucuris são um símbolo comum no folclore brasileiro. Aparecem nas obras de grandes escritores, como Guimarães Rosa, Euclides da Cunha e Castro Alves. Estão entre os mais adaptáveis répteis de nossos ecossistemas e são ícones do Pantanal. A sucuri-amarela é uma das espécies mais procuradas pelos turistas estrangeiros que visitam o Pantanal para observar a fauna local. Em
Bonito, no Mato Grosso do Sul, há quem pague um bom dinheiro para “topar” com uma sucuri-verde debaixo d’água!

É muito mais efetivo e, certamente, mais humano, aprender a conviver com as sucuris, por caminhos que minimizem o conflito, em lugar de sumir com animais tão emblemáticos de nossas planícies pantaneiras!

 http://www.oeco.org.br/colunas/colunistas-convidados/o-que-as-sucuris-matam-e-porque-pessoas-matam-sucuris/

Esta é uma republicação da revista Ciência Pantanal Vol.2, da Wildlife Conservation Society Brasil. Clique aqui para acessar a publicação original WCS