quarta-feira, 12 de julho de 2017

Substância química retarda recuperação da camada de ozônio




Camada de ozônio
O buraco na camada de ozônio é maior sobre a Antártida, mas mostrou, em 2016, os primeiros sinais de recuperação


Contudo, a recuperação da camada de ozônio poderia demorar várias décadas mais do que o previsto caso não diminuam as crescentes emissões de diclorometano, uma substância química usada como solvente de pintura e para preparar compostos químicos de geladeiras e aparelhos de ar-condicionado.


O gás ozônio que envolve o planeta fornece proteção contra radiações solares nocivas. O buraco na camada de ozônio, descoberto nos anos 1980, começou a se recuperar graças à proibição do uso dos clorofluocarbonetos (CFC), presentes em muitos produtos de limpeza domésticos, em aerossóis e outros.

Estas substâncias químicas foram abandonadas a partir da introdução do Protocolo de Montreal, em 1987, quando se descobriu que elas permaneciam muito tempo no ambiente e que sua acumulação danificava a camada de ozônio.
Diclorometano

No entanto, o diclorometano - também conhecido como cloreto de metileno - não foi incluído no protocolo, já que tem vida mais curta, ou seja, se decompõe após aproximadamente cinco meses na atmosfera.

Mesmo assim, a decomposição do composto libera cloro, que pode danificar a camada de ozônio caso chegue até ela. Os níveis de diclorometano na atmosfera aumentaram 8% por ano entre 2004 e 2014.
Se esta tendência continuar, modelos computadorizados mostram que a recuperação da camada de ozônio, prevista originalmente para 2065 (sem considerar as emissões do diclorometano) poderia demorar mais 30 anos, e só se completar em 2095.

Segundo os cientistas, os benefícios da redução das emissões de diclorometano poderão ser notados em pouco tempo, justamente porque o tempo que ele permanece na atmosfera é mais curto.
"É importante lembrar que a diminuição da camada de ozônio é um fenômeno global que, mesmo que tenha tido seu ponto máximo há uma década, é um problema ambiental persistente", disse Ryan Hossaini, pesquisador da Universidade de Lancaster. "Acreditamos que o caminho até sua recuperação será longo e cheio de obstáculos."
Origem incerta

O estudo diz ainda que o crescimento das emissões está vinculado ao papel cada vez mais importante desta substância na fabricação de hidrofluorocarbonetos, compostos químicos utilizados para substituir outros gases que causam o efeito estufa.

Segundo Hossaini, ainda não está claro quais regiões do mundo contribuem mais para o problema. Mas uma das zonas que causa preocupação é a Ásia, onde o diclorometano é usado em sistemas de refrigeração.

Uma amostra de ar retirada do limite inferior da estratosfera terrestre mostrou níveis particularmente altos de diclorometano acima da Índia e do Sudeste Asiático durante a temporada de monções.

Além desta substância, também há outros gases de vida curta que contêm cloro e que danificam a camada de ozônio. Mas não foram feitas medições para avaliar sua concentração na atmosfera.
Os cientistas acreditam que os resultados deste estudo colocam em evidência a importância de observar a longo prazo todos os gases que ameaçam a camada de ozônio e a necessidade de expandir o protocolo de Montreal para reduzir estas ameaças.
Bibliografia:

The increasing threat to stratospheric ozone from dichloromethane
Ryan Hossaini, Martyn P. Chipperfield, Stephen A. Montzka, Amber A. Leeson, Sandip S. Dhomse, John A. Pyle
Nature Communications
Vol.: 8, Article number: 15962
DOI: 10.1038/ncomms15962

Sistema mede nível de tranquilidade de ambientes urbanos


Sistema mede nível de tranquilidade de ambientes urbanos
O sistema foi aferido em várias situações, da percepção em ambiente de laboratório até a observação de locais caracteristicamente tranquilos.[Imagem: Greg Watts]


Índice de tranquilidade
Cientistas da Universidade de Bradford, no Reino Unido, desenvolveram um sistema para medir o nível de tranquilidade de ambientes urbanos e espaços públicos.

A ferramenta, batizada de TRAPT - Tranquillity Rating Prediction Tool), ou Sistema de Previsão de Nível de Tranquilidade - tenta medir o quão relaxante é cada lugar, atribuindo um escore que permite que os diferentes locais sejam comparados entre si.

O professor Greg Watts, idealizador da ferramenta, acredita que o sistema pode ajudar os planejadores urbanos, arquitetos e ambientalistas a entender os impactos das medidas de "ecologização" das cidades, como a introdução de árvores, cercas vivas, vegetação adicional ou pinturas e murais.

Com isso, torna-se possível otimizar os espaços verdes ou rejuvenescer os subúrbios degradados e os centros da cidade, tipicamente abandonados conforme o crescimento desloca os centrais comerciais, financeiros e habitacionais para outras regiões de menor custo imobiliário.


Ecologização
O professor Watts argumenta que diversos estudos têm mostrado uma ligação clara entre ambientes tranquilos e a redução do estresse, o bem-estar e até o alívio da dor. Introduzir vegetação em um ambiente para torná-lo mais agradável - um processo chamado ecologização - é uma maneira de melhorar a tranquilidade, mas até agora arquitetos e planejadores só podiam se basear em seus próprios pressupostos sobre o impacto de suas intervenções.


"Atualmente, os arquitetos projetam ambientes urbanos para fornecer espaços abertos onde as pessoas podem relaxar. Embora sejam guiados por certos princípios, não é científico. O sistema TRAPT fornece uma medida robusta e testada de quão relaxante um ambiente realmente é, ou poderia ser uma vez construído," disse o professor Watts.


O sistema usa três medidas de avaliação de um ambiente urbano, incluindo o nível de ruído, a paisagem e fatores moderadores - a quantidade de elementos naturais como árvores, arbustos, flores ou água na linha dos olhos, por exemplo. O sistema dá então ao ambiente uma pontuação entre 0 e 10, um índice descrito como "percepção de tranquilidade".


"Estamos confiantes de que nossos testes nos ajudaram a criar uma ferramenta que fornece uma medida realista e confiável de relaxamento," acrescentou o pesquisador, salientando que foram mais de 10 anos de testes em laboratório e em campo para aferir a confiabilidade dos resultados do seu programa.


Bibliografia:

The effects of "greening" urban areas on the perceptions of tranquillity
Greg Watts
Urban Forestry & Urban Greening
Vol.: 26, August 2017, Pages 11-17
DOI: 10.1016/j.ufug.2017.05.010

Primeiro celular sem bateria tira energia do ambiente


Primeiro celular sem baterias tira energia do ambiente
Ele faz e recebe chamadas, e a equipe já está trabalhando para inserir uma tela de papel eletrônico - e, eventualmente, uma "embalagem". [Imagem: Mark Stone/University of Washington]
 
Celular sem baterias
Ainda não é um smartphone, mas este protótipo consegue fazer ligações por celular e via Skype sem depender de baterias.

O celular retira a energia de que precisa para funcionar das ondas de rádio presentes no ambiente e da luz, um conceito conhecido como "colheita de energia".

"Nós construímos o que acreditamos ser o primeiro telefone celular funcional que consome quase zero de energia," disse Shyam Gollakota, da Universidade de Washington, nos EUA. "Para alcançar esse consumo de energia realmente, realmente baixo que você precisa para alimentar um celular coletando energia do ambiente, nós tivemos que fundamentalmente repensar como esses aparelhos funcionam."

Telefonia de consumo (quase) zero
A equipe eliminou a etapa que mais consome energia em um celular - a conversão dos sinais analógicos que representam o som da voz em sinais digitais que o celular pode entender. Esse processo consome tanta energia que seria impossível fazê-lo funcionar dependendo apenas da colheita de energia. Assim, foi necessário inventar um modo totalmente novo de fazer as ligações.
O celular sem bateria aproveita as minúsculas vibrações no microfone e no alto-falante geradas quando uma pessoa está falando ou ouvindo durante uma chamada.

Uma antena conectada ao microfone e ao alto-falante usa essas vibrações mecânicas para alterar os sinais de rádio analógicos emitidos pela estação de telefonia celular. Esse processo essencialmente codifica a voz nos sinais de rádio refletidos consumindo um mínimo de energia.
Para transmitir, o celular usa as vibrações do microfone para codificar os padrões de voz nos sinais refletidos. Para receber, ele converte os sinais codificados de rádio em vibrações sonoras, que vão então para o alto-falante. Neste protótipo há uma chave, que o usuário deve apertar para passar do modo fala para o modo escuta.

Usando Skype, os pesquisadores demonstraram que o protótipo pode executar as funções básicas de um telefone - fazer e receber chamadas, transmitir voz e dados e manter chamadas em espera. Mas foi necessário construir uma antena rádio-base própria dotada das características de transmissão e recepção necessárias para a demonstração. Segundo os pesquisadores, futuramente o aparelho poderá usar as transmissões da rede de telefonia celular ou dos roteadores sem fio.

"Você pode imaginar, no futuro, que todas as torres de celulares ou roteadores Wi-Fi virão com nossa tecnologia de estação base incorporada. E se cada casa tiver um roteador Wi-Fi, você poderá ter uma cobertura para o telefone sem bateria em todos os lugares," disse o pesquisador Vamsi Talla.
Primeiro celular sem baterias tira energia do ambiente
Detalhe da antena do celular sem bateria. [Imagem: Mark Stone/University of Washington]
 
Transformando o protótipo em telefone de verdade
O protótipo não consegue funcionar totalmente com base em seu novo sistema de transmissão, precisando de uma ajudinha dos coletores de energia para completar seu consumo de 3,5 microwatts - vários nanogeradores já conseguem captar energia do ambiente nesse nível, chegando até os 10 microwatts.

Isso porque, ao contrário dos sensores usados na Internet das Coisas, que podem operar por alguns instantes e depois ficar em estado de espera por um minuto ou dois, o telefone precisa operar continuamente. Também por isso, ele precisa ficar a pelo menos 10 metros da antena da estação de rádio para capturar energia suficiente.

A seguir, a equipe planeja se concentrar em melhorar o alcance operacional do telefone sem bateria e criptografar as conversas para torná-las seguras. Eles também estão trabalhando para transmitir vídeos e adicionar um recurso de exibição visual ao telefone usando telas de baixa energia feitas com papel eletrônico.
Bibliografia:

Battery-Free Cellphone
Vamsi Talla, Bryce Kellogg, Shyamnath Gollakota, Joshua R. Smith
Proceedings of the ACM on Interactive, Mobile, Wearable and Ubiquitous Tech
Vol.: 1 Issue 2, Article No. 25
DOI: 10.1145/3090090

Happy Feet vai acabar.


Por Claudio Angelo, do Observatório do Clima
Pinguins-imperadores em banquisa antártica. Foto: WHOI.
Pinguins-imperadores em banquisa antártica. Foto: WHOI.


Os simpáticos pinguins-imperadores vão ter de marchar muito para evitar a extinção – e mesmo assim conseguirão apenas retardá-la por algumas décadas se as emissões de carbono não forem contidas. Pesquisadores da França e dos Estados Unidos estimam que o aquecimento global, no pior cenário, poderá levar a um declínio de até 99% da população dessas aves, os habitantes mais carismáticos da Antártida.


O grupo liderado pela francesa Stéphanie Jenouvriet, do Instituto de Pesquisa Oceanográfica de Woods Hole (EUA), projetou diversos cenários futuros de sobrevivência da espécie, cujos habitats estarão sob pressão nas próximas décadas à medida que o aquecimento da Terra vai derretendo o gelo marinho do continente austral.


Eles concluíram que migrações de pinguins entre colônias e para novas regiões podem turbinar a sobrevivência da espécie e até aumentar o tamanho das populações em meados do século. No entanto, a partir de 2088, a degradação ambiental será tão generalizada que o número de imperadores passará a declinar em toda a Antártida, a uma taxa de até 11% ao ano.


Jenouvriet e seus colegas conceberam seus modelos de migração após anos estudando a população mais ilustre de pinguins-imperadores: a de Point Géologie, no leste antártico. A colônia ficou famosa ao estrelar o filme A Marcha dos Pinguins, de Luc Jaquet (2005), que ganhou o Oscar de melhor documentário no ano seguinte.


A observação dos imperadores de Point Géologie deu aos cientistas vislumbres fundamentais sobre o comportamento dos animais e sua resiliência às mudanças do clima. Eles descobriram, por exemplo, que a ave (de nome científico Aptenodytes forsteri) não é tão fiel assim ao seu lugar de nascimento e tem a capacidade de se dispersar entre colônias. Isso é uma vantagem para os pinguins numa Antártida impactada pela mudança do clima: se o local da colônia antiga está comprometido, eles podem simplesmente migrar para outra parte em vez de perecer, como algumas espécies com excessivo apego às origens.


“Por outro lado, o estudo dos pinguins também mostrou que a existência dos imperadores é completamente dependente da extensão de mar congelado na Antártida. É no gelo marinho que eles se deslocam e se reproduzem, e é no krill (um tipo de camarão glacial) que vive sob o gelo marinho que eles baseiam grande parte de sua dieta.”.
 
 
Por outro lado, o estudo dos pinguins também mostrou que a existência dos imperadores é completamente dependente da extensão de mar congelado na Antártida. É no gelo marinho que eles se deslocam e se reproduzem, e é no krill (um tipo de camarão glacial) que vive sob o gelo marinho que eles baseiam grande parte de sua dieta. Há uma espécie de “padrão cachinhos de ouro” nessa relação. “Gelo marinho de menos reduz a disponibilidade de locais de reprodução e de presas; gelo demais significa viagens de pesca mais altas para os adultos para o mar aberto mais próximo, o que por sua vez significa menos comida para os filhotes”, disse a cientista.


Se nada for feito para conter as emissões, a projeção é de perda de habitats para os imperadores por toda a Antártida. Em 2014, Jenouvrier e colegas estimaram que, em 2100, pelo menos dois terços das colônias teriam reduções populacionais de 50% ou mais.


Essa perda, porém, será desigual, com algumas áreas degringolando antes de outras. O novo estudo, que será publicado em agosto no periódico Biological Conservation, cria um modelo matemático unindo as projeções de perda de gelo marinho e propensão dos pinguins a emigrar. Os cientistas concluíram que a marcha entre colônias pode aumentar a população de imperadores em até 31% na primeira metade do século, se for bem-sucedida – ou reduzi-la em 65% se tudo der errado. No final, porém, quem prevalece é o clima.


“Boas decisões de dispersão servem de escudo para o efeito da mudança climática durante um curto período de tempo entre 2036 e 2046, mas no fim do século a população global estará declinando, independentemente do cenário de dispersão”, disse Jenouvrier.


Ela e seus colegas pedem que o imperador seja incluído como espécie “ameaçada” na Lei de Espécies Ameaçadas dos EUA. Seria o segundo caso – após o urso-polar – de uma espécie reconhecida como em risco pelas mudanças do clima na lei americana, que demanda ação do governo para evitar o problema por meio da redução dos gases de efeito estufa. Sob Donald Trump, porém, esse cenário é tão improvável quanto Happy Feet, o pinguim desafinado do cinema, cantar uma ópera.

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BR 163 continuará fechada em protesto contra a Flona de Jamanxim


Por Daniele Bragança
Produtores rurais ligados à Flona anunciaram que irão bloquear a Br-163, no Pará, nesta terça-feira (04). Foto: Jeso Carneiro/Flickr.
Produtores rurais ligados à Flona anunciaram mantêm bloqueio a Br-163, no Pará. 
Foto: Jeso Carneiro/Flickr.


A BR 163, umas das principais rodovias do norte do país, continuará fechada na altura de Novo Progresso, no Pará. Manifestantes protestam há uma semana contra o veto do presidente Temer que manteve o tamanho integral da Floresta Nacional (Flona) de Jamanxim, área que os ocupantes pleiteiam para aumentar a produção do município. O objetivo é fazer pressão para que o governo cumpra o acordo de enviar urgentemente um projeto de lei transformando 468 mil hectares da Flona em Área de Proteção Ambiental, a mais branda categoria de Unidade de Conservação do país.


A mudança no status de conservação beneficia os posseiros legítimos e  os grileiros que invadiram a área protegida depois que ela foi criada, em 2006. Assim, a produção que ali ocorre ficará legalizada.

É esse o principal motivo da luta para redimensionar o tamanho da área protegida, a mais desmatada do país.


Os manifestantes usam caminhões e até tratores destruídos pelo Ibama em operação contra o desmatamento para bloquear a rodovia. As paralisações estão acontecendo em pontos nas localidades de Castelo dos Sonhos, Cachoeira da Serra, Vila Isol, Novo Progresso, Três Boeiras, Caracol e Moraes Almeida.

Na manhã desta segunda-feira, líderes do movimento decidiram manter o bloqueio da estrada. Os manifestantes reclamam que o governo sequer negociou um meio termo com eles.


Madeireiros atacam o Ibama
Cegonha com 8 caminhonetes do Ibama foram queimadas em Cachoeira da Serra, no Pará. Foto: Divulgação.
Cegonha com 8 caminhonetes do Ibama foram queimadas em Cachoeira da Serra, no Pará. Foto: Divulgação.

O clima de apreensão aumentou no final da semana passada, quando  manifestantes queimaram oito caminhonetes do Ibama, além da carreta que as transportava, em Cachoeira da Serra, às margens da rodovia BR-163 (Cuiabá-Santarém), no município de Altamira. O crime aconteceu na madrugada de sexta-feira (07). A ação teria sido feita por madeireiros e seria uma retaliação ao órgão por conta de uma operação que combateu a retirada de madeira da Terra Indígena Menkragnoti.


Num áudio que circulou por Whatsapp, uma pessoa não identificada avisa que as carretas estão seguindo para Santarém, no Pará. Em outro áudio, uma mulher comenta num grupo que os veículos foram incendiados. “Acabamos de receber a notícia aqui que queimaram, lá em Cachoeira da Serra, as duas cegonhas que vinha carregada de caminhonete do Ibama. Tá tudo lá em chamas (...). Bora agradecer a Deus e vamos orar pra Deus nos proteger e continuar destruindo eles também [o Ibama], que eles não quer destruir as coisas do trabalhador?”. Em em mensagem enviada ao jornal  Folha do Progresso, um morador chegou a defender que restaurantes, hotéis, oficinas a até empresas de internet não atendam servidores do Ibama e do ICMBio. “Em guerra se usa as armas que tem”.


A escalada de violência na região e o clima bélico só tende a aumentar. O Ibama considerou a queima das caminhonetes um atentado e a presidente, Suely Araújo, mandou fechar todas as serrarias da região.  "Foi um atentado contra ação legítima do Estado brasileiro", disse o diretor de Proteção Ambiental, Luciano Evaristo,  em nota.

Estudo mostra que vertebrados estão sumindo do mapa

Por Vandré Fonseca
Leões e leoas já dominaram Europa, Índia e praticamente toda a África.Hoje, esse grande felino é encontrado apenas em áreas espalhadas ao Sul do Deserto do Saara e em uma minúscula área no Oeste da Índia. Foto: Marc/Flickr.
Leões e leoas já dominaram Europa, Índia e praticamente toda a África.Hoje, esse grande felino 
é encontrado apenas em áreas espalhadas ao Sul do Deserto do Saara e em uma minúscula 
área no Oeste da Índia. Foto: Marc/Flickr.


A população e a área ocupada por um em cada três espécies de vertebrados terrestres estão caindo em ritmo acelerado, embora boa parte delas seja classificada em baixo risco de extinção ou dados insuficientes, pelo menos por enquanto. Mais da metade dos pássaros em declínio (55%) estão na lista dos pouco ameaçados. Esses dados foram publicados em um estudo esta semana, na  Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), da Academia de Ciência dos Estados Unidos.


Os pesquisadores analisaram o número de espécies encontradas em quadrantes de 10 quilômetros quadrados. Avaliaram a distribuição de 27.600 espécies conhecidas de pássaros, anfíbios, mamíferos e répteis. E olharam com atenção dados mais detalhados entre 1990 e 2015, disponíveis para 177 espécies de mamíferos. Os números indicam que 40% das espécies estão reduzidas a uma área equivalente a um quarto do que já chegaram a ocupar.


Esta redução ocorre em ritmo diferente, conforme a região e o grupo taxonômico. Em regiões de alta biodiversidade, como florestas próximas a áreas montanhosas, a exemplo de Andes-Amazônia, Congo-Montanhas da África Oriental, Himalaia-Sul da Ásia, ocorre uma maior perda no número de espécies. Em zonas temperadas, proporcionalmente ao número de espécies conhecidas, a proporção daquelas que estão em declínio é maior.


Embora o declínio ainda não signifique o desaparecimento destas espécies, é considerado, pelos autores do estudo, o prenúncio de uma extinção massiva de espécies. Eles citam o caso do leão, que já esteve presente desde regiões da Europa à Índia e praticamente toda a África. Hoje, esse grande felino é encontrado apenas em áreas espalhadas ao Sul do Deserto do Saara e em uma minúscula área no Oeste da Índia.


"Este é um caso de uma aniquilação biológica ocorrendo globalmente, mesmo que as espécies pertencentes a essas populações ainda estejam presentes em algum lugar da Terra”, afirma o professor de Biologia Rodolfo Dirzo, que também assina o artigo.


Extinção de serviços ambientais
Os pesquisadores do Stanford Woods Institute for Environment, responsáveis pela pesquisa, alertam que o declínio das espécies significa também a extinção de serviços ecossistêmicos cruciais para o planeta, como a polinização realizada por abelhas, controle de pestes e purificação de água proporcionada por áreas úmidas. Eles afirmam que metade da população de animais que vivia na terra já desapareceu.


“A perda massiva de populações e espécies reflete nossa falta de empatia para com todas as espécies selvagens que estão em nossa companhia desde nossas origens”, afirma o líder do estudo Gerardo Ceballos, da Universidade Autônoma do México. “Isto é o prelúdio para o desaparecimento de muito mais espécies e o declínio de sistemas naturais que tornam a civilização possível”, completa.


Em 2015, um dos autores desse estudo, o professor emérito de Biologia Paul Ehrlich, já havia publicado um artigo chamando a atenção para a extinção massiva em curso no planeta. De acordo com ele, estamos entrando em uma era sem paralelo desde o desaparecimento dos dinossauros, há 66 milhões de anos. Dados da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, Inglês) indicam que 41% das espécies de anfíbios e 26% dos mamíferos estão ameaçados de extinção.

Professor Paul Ehrlich fala sobre o estudo (em inglês):

 https://youtu.be/TDvyUbp5WDE

Temer anistia grilagem de terras

Por Observatório do Clima
O presidente Michel Temer sanciona a MP 759. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil.
O presidente Michel Temer sanciona a MP 759. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil.


O presidente Michel Temer sancionou nesta terça-feira (11), sem nenhum veto, a Medida Provisória 759, que permitirá a regularização de terras públicas ocupadas até 2011, em zona urbana e rural.
A medida, na prática, é uma anistia à grilagem, já que amplia em sete anos o período de regularização em relação a uma lei anterior, de 2009, que trata do mesmo assunto. Também amplia de 1.500 para 2.500 hectares o tamanho das propriedades passíveis de regularização, o que permite legalizar a posse de grandes propriedades, em especial na Amazônia.


A sanção ocorreu numa cerimônia no Palácio do Planalto, diante de uma claque de parlamentares aliados do governo, entre eles vários membros da bancada ruralista. Temer estava acompanhado dos ministros Bruno Araújo (Cidades), Dyogo Oliveira (Planejamento) e Eliseu Padilha (Casa Civil) – ele próprio suspeito de invasão de terras públicas e desmatamento ilegal num parque estadual em Mato Grosso.


“Essa medida tem efeito de cunho social, de cunho humano até”, afirmou o ministro do Planejamento. Seu colega das Cidades foi além: chamou a MP 759 de “uma das maiores revoluções silenciosas” do governo Temer.


Não faltaram nem personagens – cidadãos humildes trazidos de Mato Grosso, do Ceará e do Rio Grande do Norte para receber a escritura dos terrenos que ocupam das mãos do próprio presidente e do ministro da Casa Civil, entre gritos de “fica, Temer!”


A MP foi saudada pelo governo como a quitação de uma dívida social: segundo Bruno Araújo, há 100 milhões de brasileiros – metade da população – que não possuem o registro dos imóveis que ocupam.


“Em Brasília, cidade que atravessa uma crise hídrica, as invasões de zonas de mananciais poderão ser regularizadas. No Rio de Janeiro, estão na mira as ocupações ilegais do terreno do Jardim Botânico, que pertence ao Ministério do Meio Ambiente.”.
No entanto, especialistas apontam que a lei traz mais problemas do que resolve: em áreas urbanas, ela poderá legalizar ocupações dissociadas dos planos diretores, o que trará problemas a prefeitos para prover as novas áreas consolidadas de serviços públicos. Em Brasília, cidade que atravessa uma crise hídrica, as invasões de zonas de mananciais poderão ser regularizadas. No Rio de Janeiro, estão na mira as ocupações ilegais do terreno do Jardim Botânico, que pertence ao Ministério do Meio Ambiente.


Na Amazônia, a MP dá a senha para mais desmatamento, já que o principal motor da devastação é a grilagem de terras.


“Além de promover injustiça social, a medida vai incentivar o avanço das ocupações sobre áreas de florestas, aumento o desmatamento na Amazônia. Não só pela anistia que esta medida garante, mas pela expectativa de futuro que ela inspira”, afirmou Maurício Voivodic, diretor-executivo do WWF-Brasil.



“A sanção é claramente um sinal que o governo manda de que invadir terra pública é lucrativo e é um bom negócio”, disse a advogada Brenda Brito, pesquisadora do Imazon. Em artigo publicado pelo OC na segunda-feira (10) ela chama atenção para mais um problema da MP: os valores que serão cobrados pelo governo pela regularização. Um hectare de terra em Paragominas (PA), por exemplo, pode custar R$ 10 mil no mercado. Após a nova lei, uma área do mesmo tamanho poderá ser regularizada por menos de R$ 50.


Para quem vive de ocupar terras, desmatar, plantar capim, revender e pular para uma nova área, é um prato cheio, porque elimina o risco do negócio da grilagem. “Você pode depois pagar um valor irrisório e revender essa área com alta lucratividade”, disse Brito. “Isso vem num momento péssimo, porque estamos vendo aumento no desmatamento e conflitos no campo exacerbados – este ano é de recorde em mortes no campo em Estados como o Pará. Então o a mensagem é totalmente o contrário do que o governo deveria estar falando neste momento.”

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